A montanha e a solução de problemas

A busca por conhecer melhor a si é algo encantador. Fascino-me como ideias surgem e ressurgem nos momentos corretos. Certa vez ouvi um sábio dizer que o mesmo conceito chegará repetidas vezes até você, mas você só perceberá o significado quando estiver pronto.

Talvez já tenha acontecido contigo, mas é frequente ouvir algo e fazer muito sentido. Então, quando divido o que ouvi e me gerou reflexão, frequentemente eu ouço: “Eu já te disse isso diversas vezes…”. Essa é a retórica da mesma mensagem retornar quantas vezes for preciso até encontrar-te preparado.

E assim foi o ocorrido novamente. Voltamos alguns anos quando ouvi o conceito de subir a montanha para entender o problema, e confesso que achei bem interessante, mas talvez pouco aplicável. Até que, alguns anos após, estava parado no estacionamento esperando o horário e pensei em ler um livro que há tempos eu adiava. 

Na metade da leitura, a parábola de subir a montanha me confronta, mas agora com aplicação e sentido. Não digo que isso ocorreu por estar mais bem explicado, mas sim por encarar agora a história do discípulo, pois quando o discípulo está pronto o mestre aparece (mas isso é tema para outro dia).

O livro contava que temos três tipos de consciência, sendo que a plena era alcançada apenas no topo da montanha. Sem ter a pretensão de repetir as histórias (tanto a de anos atrás como a do livro), mas com o desejo de trazê-la compatível ao meu entendimento.

Imagine que você está vivendo uma situação que lhe incomoda, e pode ser qualquer uma. Você tenta encontrar as causas e motivos, mas não consegue enxergá-los. Você está fazendo seu melhor, mas não consegue ter clareza do que está ocorrendo. Sabe apenas que está no centro da confusão, dando seu melhor para resolver as coisas e situações e, mesmo assim, não é o suficiente. Certamente você sentirá cansaço se ficar aqui por muito tempo. Isso só ocorre, pois está no meio de uma percepção contaminada pelos fatos e, mesmo que massageie o seu ego, o problema só existe por você estar no meio dele. Se aí não estivesse, o problema – para sua realidade – não existiria.

Depois de muito esforço, você aceita o desafio de subir até a metade da montanha com o objetivo de enxergar outras possibilidades de como resolver seu problema. A primeira percepção que você tem é que seu problema não está tão enorme quanto parecia estar lá de baixo. Você percebe outros atores e fatores que contribuem com o problema, e começa a ter clareza de como resolvê-lo. Ainda sente as dores da briga, pois está longe o suficiente para não ser o centro, mas perto ainda para enxergar todas as discussões, fatores e atores. Ainda sente certo incômodo por fazer parte do problema, mas agora como espectador. Inclusive, experimenta a estranha sensação de se ver agindo no meio da discussão, e pode analisar seus atos como uma terceira pessoa. Se de um lado o incômodo dessa percepção ocorre, por outro, percebe como pode agir diferente e não tumultuar ainda mais a situação.

Um pouco melhor, decide subir ao topo da montanha. Enxergar novos horizontes para onde deseja ir e entende que o único fator de aprisionamento é você mesmo. Encanta-se com o todo de tal forma que se esquece da discussão, mas ao olhar para a base da montanha percebe uma pequena movimentação. Não se identifica mais no meio, e tampouco consegue definir se o movimento é uma briga ou apenas um aglomerado de pessoas movendo-se. Por mais que tente focar na solução do problema, não mais sente que é uma situação desconfortável e misteriosamente surgem ideias de como agir em uma situação hipotética. Você está neste momento na percepção plena, enxergando seus potenciais, qual horizonte está esperando você simplesmente ir e, como agiria se estivesse no problema para resolvê-lo de forma simples.

Claro que, do meio do olho do furacão nem sempre podemos sair, mas afastar-se, olhar-se como uma terceira pessoa, e subir onde os problemas não parecem ser tão grandes ajudam a resolvê-los de forma simples. Talvez seja por isso que quem está fora do problema não o enxerga tão grande como quando estamos dentro.

E aí, bora se afastar um pouco e olhar nossos desafios com menos envolvimento passional?

por Anders Noren

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